Florestas de algas: os “bosques” que respiram pelos oceanos

Como estes ecossistemas marinhos vitais estão a proteger o clima, a alimentar a vida marinha e a inspirar projetos de reabilitação em Portugal e no mundo

Os oceanos escondem um dos seus segredos mais produtivos e importantes para o planeta: as florestas de algas. Estes ecossistemas submersos, muitas vezes invisíveis aos nossos olhos, são verdadeiros "pulmões azuis", essenciais para a saúde dos mares. São compostos por macroalgas gigantes, como o kelp, que podem atingir dezenas de metros, e formam densos bosques debaixo de água. 

Elas desempenham um papel crucial no combate às alterações climáticas e na manutenção da vida marinha: são responsáveis por gerar oxigénio, absorver dióxido de carbono e oferecer abrigo e alimento a inúmeras espécies.

Funcionam como barreiras naturais contra a erosão costeira, filtram a água e ajudam a estabilizar o ecossistema marinho - são verdadeiras caixas-fortes de biodiversidade, com uma produtividade comparável às florestas tropicais. 

Apesar da sua importância vital, as florestas de algas estão a enfrentar um declínio alarmante em todo o mundo. A nível global, o United Nations Environment Programme estima que as florestas de kelp estão a degradar-se a uma taxa de 1,8% por ano. No total, entre 40% a 60% destas florestas já se encontram danificadas.

Porque é que as florestas de algas estão a desaparecer?

  • Aumento da temperatura da água: o aquecimento global causa o branqueamento das algas, afetando a sua capacidade de crescimento e reprodução.

  • Poluição por nutrientes: o excesso de escoamento agrícola e esgoto industrial pode levar à proliferação de algas oportunistas que competem e sufocam as macroalgas.

  • Pesca predatória: a pesca excessiva de predadores de ouriços do mar (que se alimentam de algas marinhas), como lagostas, desequilibra o ecossistema e leva ao crescimento descontrolado dessa população, que se alimenta vorazmente das florestas.

Imagens de satélite e registos científicos apontam para quedas dramáticas em áreas específicas, como a Tasmânia, Austrália, onde cerca de 95% das florestas de kelp gigantes desapareceram nas últimas décadas. Na Califórnia, em menos de 10 anos, algumas zonas também perderam até 96% das suas florestas

Um investimento com retorno garantido: benefícios para as comunidades e para o clima
Restaurar estes bosques submersos é investir num oceano saudável e num futuro sustentável — e Portugal tem a oportunidade de se tornar uma referência global neste movimento azul. Além de proteger a biodiversidade, as florestas de algas:

  • Apoiam a pesca local: servem como berçários para peixes e crustáceos com valor comercial, garantindo a sustentabilidade da indústria de pesca.

  • Promovem o turismo: podem ser destinos para o ecoturismo, como o mergulho, atraindo visitantes e gerando receita para as comunidades costeiras.

  • Criam novas indústrias: o cultivo de algas está a crescer rapidamente, com aplicações que vão de biocombustíveis e alimentos, a bioplásticos e fertilizantes, criando novos empregos e oportunidades.

Além disso, as florestas de algas são absorventes de carbono incrivelmente eficientes. O seu papel na captura de dióxido de carbono, conhecido como "carbono azul", é crucial. Elas podem absorver carbono a um ritmo 20 vezes maior do que as florestas terrestres, contribuindo de forma decisiva para a mitigação das alterações climáticas.


Iniciativas de reabilitação em Portugal e no mundo
Em Portugal, iniciativas como a SeaForester, o BlueForests e o BLUEFORESTING estão a liderar esforços de recuperação destas florestas submersas. Através de técnicas inovadoras, como a semeação de cascalho com propágulos ("Green Gravel"), investigadores e comunidades trabalham juntos para devolver a vida a áreas degradadas.

Também na Europa, o projeto Sussex Kelp Recovery, no Reino Unido, mostra que políticas eficazes podem acelerar a regeneração natural. A proibição de artes de pesca destrutivas e a monitorização rigorosa provam que, quando a pressão sobre o ecossistema é removida, o kelp volta a florescer.

No resto do mundo, iniciativas como o Kelp Blue, na Namíbia, que cultiva macroalgas para a indústria, ou projetos como a Operation Crayweed, na Austrália, que está a recolonizar as rochas costeiras de Sydney com uma alga nativa, demonstram que a conservação marinha pode andar de mãos dadas com benefícios económicos.

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