7 batidas por minuto no silêncio do Oceano

O que a jornada de uma campeã de mergulho livre nos pode ensinar sobre autoconhecimento e força interior

O mergulho livre é mais do que um desporto: é uma conexão profunda com o oceano e com os limites do corpo humano. Em “7 Beats Per Minute”, um dos filmes que será exibido no International Ocean Film Tour (IOFT), com início a 29/09 em Portugal, acompanhamos Jessea Lu, atleta chinesa que surpreendeu o mundo ao permanecer mais de oito minutos debaixo de água sem respirar. 

Neste documentário de Yuqi Kang, acompanhamos Jessea Lu, campeã de apneia, no retorno ao local onde quase perdeu a vida durante uma tentativa de bater o recorde mundial. Depois de uma experiência de quatro minutos “sem vida”, a mergulhadora regressa para enfrentar os traumas do passado e encontrar um caminho de volta à conexão com o oceano e com ela própria. 

Muito além de uma performance física, o que vemos é um mergulho profundo na psique da atleta, onde cada descida se torna uma linha ténue entre risco e autodescoberta, desafiando não apenas a gravidade, mas os próprios limites físicos e psicológicos.

A sua trajetória levou-a rapidamente a conquistar espaço entre os grandes nomes do mergulho livre mundial, e nas mais diversas competições, com destaque para a Vertical Blue, nas Bahamas, considerada a mais prestigiada da modalidade. Ali, no icónico Dean’s Blue Hole, um dos buracos azuis mais profundos do planeta, Jessea enfrenta os maiores desafios do corpo e da mente, numa dança silenciosa entre coragem, meditação e superação.

Apenas no início

Apesar de ser uma estreante no mergulho livre, Jessea está determinada em pôr-se à prova e em explorar os seus próprios limites. E em “7 Beats Per Minute” o que mais impressiona, além da performance atlética, claro, é a coragem, a concentração e a meditação silenciosa que acompanha cada apneia.

Com realização de Yuqi Kang, e produção da National Film Board of Canada e Intuitive Pictures II Inc, o documentário leva o espectador numa imersão cinematográfica no azul profundo, revelando a beleza, o silêncio e o mistério do oceano, assim como os desafios psicológicos, físicos e emocionais enfrentados por quem vive à beira do limite.

Porque tens de ver 

“7 Beats Per Minute” não é apenas sobre desempenho desportivo é um convite para admirar a coragem, disciplina e paixão pelo oceano, mostrando que o mergulho livre não é só um desporto extremo, mas uma verdadeira jornada de autoconhecimento e superação. Uma experiência que te deixará em suspense, fascinada e inspirada.

A jornada de Jessea é um poderoso espelho para as transições e buscas interiores que muitas mulheres enfrentam. A capacidade de superação e a meditação silenciosa que podem ser encontradas ao abraçar novos desafios, sejam eles na carreira, na vida pessoal ou em novas paixões.


Mergulho mamífero

O mergulho livre, ou freediving, é a prática de descer às profundezas apenas com o ar nos pulmões, sem recurso a garrafa ou equipamentos pesados. Mais do que um desporto, é uma filosofia de vida que une disciplina física, autocontrole mental e uma conexão íntima com o oceano.

O título do filme, "7 Beats Per Minute", refere-se ao ritmo cardíaco extremamente baixo que Jessea consegue atingir durante os seus mergulhos profundos. Esse ritmo, de sete batidas por minuto (a frequência cardíaca normal de um adulto saudável em repouso varia entre 60 e 100 bpm), é uma manifestação do reflexo de mergulho mamífero, um mecanismo natural que reduz os batimentos cardíacos e direciona o oxigénio para os órgãos vitais, permitindo que o corpo se adapte a situações extremas. O resultado é uma experiência única de silêncio, foco e imersão total.

Em harmonia com a vida marinha

O mergulho livre é, além de uma prática desportiva, uma jornada de autoconhecimento e bem-estar. Esta modalidade proporciona um estado de foco e tranquilidade profundos, alcançados através da respiração controlada e do silêncio absoluto do fundo do mar. Ao aprender a escutar os sinais do corpo e a respeitar os seus limites, o praticante desenvolve uma consciência corporal aguçada. 

Além disso, o freediving fortalece a resiliência física e aumenta a capacidade respiratória, contribuindo para músculos mais fortes e maior resistência. Por fim, a ausência de equipamentos ruidosos cria uma conexão íntima e autêntica com a natureza, permitindo uma harmonia única com a vida marinha.

Além de Jessea Lu, conheça algumas atletas de Freediving em destaque globalmente:

  • Mirela Kardašević (Croácia) – Um dos maiores nomes femininos da atualidade, com recordes em piscina e profundidade, incluindo 282 metros em apneia dinâmica com monofin.

  • Alessia Zecchini (Itália) – Jovem estrela do freediving, pioneira ao alcançar 100 m apenas com os braços (free immersion), com diversos recordes nacionais e internacionais.

  • Kateryna Sadurska (Ucrânia) – Campeã mundial e recordista em Constant Weight Without Fins, sendo a primeira mulher a chegar aos 84 metros nessa categoria.

  • Karol Meyer (Brasil) – Com recordes no Guinness de 121 m em apneia e mais de 18 minutos em apneia estática com oxigénio, é uma referência nacional e internacional.

  • Flavia Eberhard (Brasil) – Freediver, modelo e apresentadora, detentora de nove recordes (incluindo Recorde Sul-Americano em free immersion), e personalidade que une desporto, média e conservação.

  • Simone Martins (Portugal) – Uma das maiores figuras femininas no freediving nacional, com 13 recordes nacionais em piscina e mar.

O International Ocean Film Tour (IOFT), celebra a beleza, os desafios e a conservação dos oceanos, como falámos aqui, e este ano traz histórias de coragem, aventura e superação.

Próximo
Próximo

Gliding Barnacles Festival: uma experiência artística única na Figueira da Foz