Da Chick nas nuvens: funk, alma e liberdade em novo voo criativo

Em Up in The Clouds, a artista portuguesa mistura leveza e reflexão num dos trabalhos mais completos da sua carreira

Por Bia Sant’Anna

Da Chick nunca se contentou  em seguir um único caminho sonoro. Desde o início da carreira, fez da fusão de géneros a sua identidade — misturando funk, disco e soul com eletrónica e groove em permanente transformação. “Percebi que ia ser um cocktail de sonoridades”, recorda. 

Hoje, essa mistura amadureceu e abriu espaço a novas paisagens. “Sou muito influenciada pela música negra, música soulful, mas na verdade tudo me influencia. Neste momento, estou a explorar um mundo mais orgânico, com o jazz, e a compor música mais tranquila e calma.”

Esse movimento natural de evolução culmina em Up in The Clouds, o novo álbum que será lançado a 10 de outubro. Para Da Chick, trata-se de um marco. “É provavelmente o disco mais completo que fiz. Aborda temas muito leves, felizes, mas também experiências de superação e reflexão.”

A produção contou com a colaboração de Miguel Nicolau, amigo de longa data e cúmplice musical. “Partilhamos muitas referências, e isso ajudou a elevar as músicas a um nível que nunca tinha experienciado”, explica, visivelmente entusiasmada.

A afirmação de uma identidade
A busca pela autonomia e pela autenticidade já se tinha revelado em Conversations with the Beat, um trabalho que marcou uma viragem na sua discografia. “Foi a minha primeira tentativa de me envolver mais na produção da minha própria música. Estava numa fase de autodescoberta, de querer ser independente e de mandar cá para fora o que de mais genuíno e puro vivia em mim.”

Esse disco, admite, fê-la crescer muito, tanto a nível pessoal como artístico, abrindo caminho para a maturidade que agora se reflete no novo álbum.

Mas a identidade de Da Chick não vive apenas em estúdio: é no palco que muitas vezes ganha corpo e intensidade. As suas atuações ao vivo, já distinguidas com prémios em Portugal, são conhecidas pela energia contagiante e pela entrega total. “Estar em palco, rodeada de pessoas com quem partilho esta paixão, e ter a liberdade de ser eu mesma, cantar as minhas canções e contar as minhas histórias é algo que me alimenta a alma. Há algo de especial na troca de energia com o público. É um momento de ligação e de celebração do que nos une.”

De Lisboa para o mundo

Antes de chegar a esta fase de maturidade, a artista já tinha marcado terreno com uma série de lançamentos e colaborações que a destacaram no panorama da música portuguesa.

O EP de estreia Curly Mess surgiu em 2012, seguido de Chick to Chick (2015), um álbum que consolidou o seu nome e contou com produtores de referência da cena eletrónica nacional. 

Vieram depois singles e colaborações internacionais, uma digressão pelos Estados Unidos e convites para partilhar o palco com nomes lendários como Earth, Wind & Fire ou Maceo Parker. Essa trajetória, marcada por atitude e versatilidade, fez de Da Chick uma das vozes mais singulares e consistentes da sua geração.

Esse sentido de liberdade também se estende à forma como encara a indústria musical e o papel das mulheres na mesma. Ao longo do percurso, Da Chick enfrentou desafios, mas a sua mensagem é clara: “O melhor conselho que posso partilhar é nunca deixarmos de ser quem somos para agradar os outros. Devemos sempre valorizar quem somos, contar a nossa história e exprimir genuinamente as nossas emoções.” É nessa integridade que se ancora a sua força criativa.

Nas nuvens e sem limites
Da Chick construiu um caminho singular: do eletrónico às raízes do funk, das digressões internacionais às colaborações locais, sempre fiel à intuição e à vontade de experimentar. Agora, com Up in The Clouds, a artista portuguesa convida o público a embarcar numa nova viagem — feita de groove, leveza e reflexão. 

Mais do que uma coleção de canções, o disco é a expressão de uma artista que continua a reinventar-se, sem perder a essência. Como ela própria admite, “gosto muito do que faço” — e talvez seja essa paixão que a mantém, literalmente, nas nuvens.

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